5.05.2010

Fim da linha

E agora
Como quem trás as mãos na algibeira
Chegamos ao fim deste lugar
Das oliveiras carregadas
Dos grãos de trigo para apanha
Das uvas inchadas de querer a boca
Consolamo-nos com a tristeza
Visitamos a alegria
Colhemo-nos num dia de chuva
Atravessamos os raios
Construimos a casa na areia
Fixamos os diplomas nas paredes
Num exagero enorme de termos sido
O regresso de qualquer caminho.


Percorremos todas as coisas
Buscamos todas as perfeições
Sem que nenhuma delas exista
Ao menos poderiamos ter dito
Como a voz de um rio ao entregar-se ao mar
Que mundo exterior não existe!
O sol é feito de um sorriso
Para não te matares no primeiro dia
A água vem da nascente da alegria
Dos vasos espirituais do sangue
Onde as estrelas conspiram
E que confluiem dentro de nós.

Na enxada pesada do primeiro beco escuro
Na primeira armadura sobre os ombros frágeis
Em todo o caso procuramo-nos
Porque só somos a certeza dos pedaços
A desinformidade da luta pessoal
A estrada e o muro e o retornar para dentro.

Queremos ser mais que a nuvem
Que a lagarta sobre a couve
Que o mar e as suas ondas
Que a chuva num dia de Inverno
Mas, mais do que isso não somos!


Porém, o que será lá em cima
Um jardim cheio de bancos?
Ou serás tu o jardim e a tua alma os bancos
Ou húmus flores e plantas
Em nome de todo o universo
Depois desse fim encontrado
Tal como o rio vence os rochedos
Azul, transparente e salgado
Finalmente a alma em paz […]


Por mim eu quero ser
Esse jardim onde posso deixar as mãos
A lágrima convertida em girassol
A voz limpida sem laminas
A terra debicada de pardais
Sem a pertença de um dono
Não escrevamos os nomes
Com medo que alguém os apague
Somos força criadora
Tomemos café à mesma hora!
Ama-te pode ser o primeiro passo
procura-te sem medo de nunca encontares!



Manuel Feliciano

Sem comentários:

Enviar um comentário