7.28.2010

Elegia à vida







Senhor, eu vi a casa grande do vizinho e não a invejei
gente com saúde caminhando, me entristeci por também a querer
mas não fui a chorar reclamando para casa
meus amigos com carros topo de gama, mas nem notei
fazendas com fruta madura e não as roubei
olhei a prostituta na rua e não a discriminei
se olhei demasiado para ela e fui incasto, foi justamente
porque sou de carne e osso e minha carne não resistiu
não tencionei blasfemar a prostituta nem maldizer o vosso nome
a tratei como se fosse minha mulher, carente de amor e carinho
vi o idoso na rua e não ousei contra a sua dignidade
entreguei-me à ciência, ainda estou vivo, mas cheio de dores
se alguma vez me revoltei com a vida e a criação, já foi em desepero
com a carga da pedra pesada do mundo sobre as minhas costas
mas, admito que ante os mistérios do mundo, sou uma abelha na chuva
o que sou eu, se nem sequer me auto-concebi?
querer compreender a simples semente da árvore impossibilita-me
fica para além de todos os muros que os meus olhos não conseguem ver....
Eu sei lá meu Deus, quero ter mulher e filhos, mas basta-me uma cabana
meti-me por mil encruzelhadas porque, como diz carlos drummond "tem uma pedra no meu caminho" a cada instante, que me pergunto, que prisão é esta sem ferros?
eu batalho como quem nada num rio sem água.....Perdoai-me meu Deus
não consigo fechar o poema....Job ainda perdeu aquilo que tinha
eu perdi o que nunca cheguei a ter, não é pleonasmo, é verdade
também se perde quando nunca se teve nada, e então os nossos sonhos?
vão-me dizer que tudo o que tiveram não nasceu dessa ilusória fantasia
Ao menos um pastor, um anjo e uma flauta, para enganar esta vida.


manuel feliciano

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