8.26.2010

Doem-me os tremores de terra

Doem-me os tremores de terra
Dentro dos meus olhos castanhos
Nos ossos, na carne, na boca
Escravos nas ex-colónias
Que ainda me choram na pele
Parem-me dores e temores
A fome calada com ferros
As cinzas do Holocausto
Abrem-se-me em bocas nas veias
Erguem-se no chão do meu corpo
Pedem-me a voz os Judeus
Crianças que não mataram Cristo
E a pútrea bomba de Heroshima?
Que ao mundo só já é maçã
Que dizimou tanta criança
Que me colhiam a alegria
E frutos maduros no pomar
Com ternura e magia
Em vias-lácteas fora da terra
Que nunca neguei ao poema
A morte tornou-se banal
Falar da dor é pecado
E a memória um escândalo
A história revista cor de rosa
Este mundo não tem sangue
Nesta puta de vida boa
Em que muitos não a mereciam
Sabem o papel que me deixaram?
Escrever na língua de ditadores
Que eu só sou manco das pernas.


manuel feliciano

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