8.05.2010

Duas palavras a Fernando Pessoa

Nem me chego muito a ti
Na tua catedral de palavras
O mar envolve-me por todo
E eu só sou um mero mosquito
De ti eu sou a impaciência
O tédio da vida e um barco no poente
Eu acho que ainda hoje não sabem
Que escreveste uma cidade em carne viva
E que em vida foste um defunto
O que puseste a morte em causa
Embora cambaleaste o que é próprio
De um ser humano com humildade
Que nem tudo sabe de si
Que nem tudo sabe do mundo
E fica naquele intermédio
A tocar os pés dos anjos
Se no lugar do coração colotaste uma lata velha
É porque aqui dói de verdade
Neste teatro do ser
E que nas verdadeiras tempestades
Quistes saber o que é mundo
Por isso não encomendaste o sol
Quando os teus pés estavam gelados
Porém, eras o bastante para apanhar flores na chuva
Eu sei que te riste com a aparência
Tu questionaste será que eu estou vivo?
Embora soubeste ressuscistar a aldeia da tua infância
Para fugires a este abismo do pó que se impregna no corpo
Neste absurdo que dói de nunca se matar a sede
De andarmos sempre para aqui como se fôssemos algo
E decidissemos o amanhã com um telefonema urgente
Mas ainda bem que soubeste brincar ao esconde-esconde
Só ainda não entendi porque te amaram só após a morte
Vou visitar a tua campa e fumar uma cigarrada
Contigo na esplanada da Brasileira a ver passar umas mulheres
Mas olha o esgoto continua o mesmo e as carinhas não mudaram!!!



Manuel Feliciano

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