8.17.2010

Eu nunca ambicionei nada

Eu nunca ambicionei nada neste mundo
vivo cada dia desprendido de tudo
vendi todos os meus relógios na feira
dei o meu eu a um outro que não o tinha
sou metafísico, irreal, despreocupado
tudo o que granjeio é imaterial
o meu corpo é espantalho numa horta
eu não acredito nas coisas visíveis
não professo religiões nem filosofias
aceito o degredo com cara de palhaço
os meus sentimentos doei-os a uma pedra
assim talvez ela chore tudo por mim
também não fiquei de mãos nos bolsos
a fumar o tempo em cigarros nas esquinas
tudo o que plantei foi nas pequenas coisas
como uma folha amarela a cair de Outono
porque mesmo ao cair mordeu-me os lábios
porque me rasgou com a essência da vida
aqui não quero nada a menos que seja póstumo!



manuel feliciano

Sem comentários:

Enviar um comentário