8.01.2010

Palavras vermelhas



Cortas-me sem sangue
Com a tua boca de madre silvas
Cálice por onde os deuses bebem
De cristais com licor
Céu em cetim
Pedras em choro
Sabendo-me a carne e a céu
E a um mundo outro
Morde-me e eleva-me
No aconchego do teu vale
De rio, árvores, e ais
Descendo pelo segredo húmido das palavras
Vermelhas, brancas, e cor-de-rosa
Casa escondida onde crianças brincam
Fora do mundo
Como é bom entrar nesse pequeno lugar
Feito do segredo dos teus olhos
Faiscantes de estrelas
Como rolas por cima dos ramos
Água na cascata dos cabelos
Tenho sede
Preciso engolir-te os cabelos
Suicidar-me com eles
por entre lagos e raízes
À velocidade ultra-som
Desfalecer nesses teus gritos
É tão bom, ser brisa dentro de ti
Sentir o teu ofegar, o teu cheiro
Meu interior ser tua fotografia por fora
E recolher-me no teu íntimo
Nessas pétalas de sal
E tomá-las em açúcar numa nuvem branca
Queria que me engolisses como um céu
E inventássemos um mundo
À nossa medida
Se quiseres eu sirvo-te todos os dias
Ser teu escravo será uma pura liberdade
O marfim, o ouro, e os diamantes
Não são para toda gente
Nem sempre são para os melhores
Mas tu és da índole do marfim
Dos diamantes e do ouro
Eu sou um simples trabalhador a dias
Escavando essas minas por um salário baixo
Nem sei se o sol me atribuirá elogios
Porque eu sou das coisas pequenas
Dos lagartos em cima das couves
Por isso
Só uma ave
Muito genuína
Em cima de mim pousaria
No meu estado simples
De quem corre as ruas
Com fogo nas mãos
E eu não sei se queres esse fogo
Que faz parte da tristeza da vida
Ser agricultor morrendo pobre
Mas pondo amor sempre na terra
Onde o teu beijo sangra
Para que o cereal nasça
Eu não sei se me darias sol
Para que a semente desabrochasse
Deixa-me ao menos
Aquecer-te num dia de inverno
E elevar-te numa nuvem ao céu
E esgrimir-te em sois derretendo
Na saliva dos teus sonhos
Habitar a tua eternidade
Em cada recôndito
Em cada dentada de sol
Erguendo-se-te na púbis
Eu ser um teu cordeiro
Pastando-te alegria
O cansaço
E as dores
E fecundá-las em barcos de vento
Sou quem ousa pousar
Sobre os ombros da tua Babel!
Em Línguas feitas de asas de amor.




manuel feliciano

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