8.18.2010

Só colho a vida

Subi ao ponto mais alto por baixo de tempestades
Onde nem as aves chegam e o silêncio faz-se noite
Mas não levei as asas de Ícaro a desafiar o Sol


Gritei a vida pelos canaviais das veias em sangue
Alguém me há-de ouvir perante a paisagem calada
Doía-me cada gesto e as palavras em cada asa

Mas eu quis gravar o teu nome bem lá no alto
Na taça azul do côncavo do céu e bebê-lo
Onde ninguém possa atentar contra o meu abrigo
E na esperança já quase comida pela chuva

Eu quis derrubar o mal com todo o meu grito
Tomar a morte pelas mãos e esbofeteá-la na cara
Soltei a voz e rasguei toda paisagem inexistente


Eu não acredito nem no caruncho nem nas tábuas
Se é tudo maldição os Deuses que estejam comigo


Um dia levantarei vozes das areias mais profundas
O amor é bem mais fecundo que o absurdo da vida
Nada é mais forte que a semente a desabrochar



Eu nesse dia estava preso a cordas invisíveis
Mas nem por um minuto me calei mesmo com dores
Um dia seremos o vento enrolando nas marés
Nenhuma coisa sem cara ou morte clandestina
Nenhum regozijo do mal penteará os nossos cabelos


E na ausência de frutos abri os ramos do peito
Toma meu amor da minha árvore come esta maçã madura
Come-a que a escuridão hei-de a matar com a boca

Enquanto tu me esperavas no aeroporto Jorge Chávez
Eu voltei a gritar mais alto para que todos ouvissem


A luz é bem mais vida que o jóio e a escravatura
Nenhuma moléstia pode contra a acção sagrada dos Deuses
Eu renuncio à mentira sou filho dos Deuses e da vida
Uni-me às tuas mãos e abriu-se-me um beijo por dentro


Lima acolheu-nos em graça e deu-nos um prato de ceviche
Enquanto esperamos pelo bus que nos levou para Arequipa
Quebrei todos os muros e ciladas com o amor dos teus olhos.


manuel feliciano

Sem comentários:

Enviar um comentário