8.09.2010

Só sou um fantasma

horas a fio à espera do barco
passeei-me por Lisboa
sentei-me por jardins
vi mulheres esguias
daquelas que são de barro
outras em bancos de pernas cruzadas
homens que trocam uma hora por um dia
e ratos de esgoto com fraque e gravata
uns pediam esmola nas esquinas da vida
e alguns desejaram que o dia não nascesse
e na hora de entrar no cais da saudade
homens choravam com lágrimas de medo
como quem vai para o degredo
e eu sorrindo no cais para voltar para o útero
estavamos todos ali
debaixo do mesmo tecto
olhei para os telhados de casas e carros
afinal para quê se eram feitos de neve
nem sequer me viram
eu era só nevoeiro
não houve sequer quem me pedisse bilhete
para Manzanillo Terminal no Panama que é tão longe
que afinal é tão perto e fica a um supiro de nada.


manuel feliciano

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