9.10.2010

Eu li uma catalã

Depois que li uma jovem catalã
De Barcelona e do mundo
Oferecendo os seus cabelos ao Tejo
Como rastos de navios
Na desembocadura da Cruz Quebrada
Ex-Oficial da marinha
Acordei da letargia
Pensei que não havia mar como dantes
Daqueles que deixam lágrimas nas costas
E onde podemos apanhar figos
Ao comando de uma ilusão
Talhada em ferro e madeira
Feito de memória e de vida
Em que o azul eram os abraços
Em que esquecemos todos os perigos
Em biqueiras de sapatos
O mar ficou menos salgado
Com corpos enleados na lua
Mas que afinal nem se viam
Brilhando mais que lábios perdidos
Beijando-se sem coordenadas
Como quem vai à deriva
Pensando encontrar algum porto
Julguei que eram só os seus olhos
E a minha fantasia
Nos quais eu ia à deriva
E se mais longe eu estava
De tudo que para trás ficara
Apanhava uvas no cio
Na popa de belas palavras
Que vão muito além do seu rosto
que rasgam muito mais que enxadas
Não soube mais se era António
Ou sequer se era José
Ou cego o quanto bastasse
Para escutar o invisível
Da proa rasgando as águas
Entre as minhas coxas e as suas
Enquanto o comandante bebia Whisky
O que se perdeu erguia-se
A casa das máquinas fervia
Os meus pés viam mais longe
Mesmo se a minha boca era de monge
Formavam-se cavalos em gritos
Nas sombras que a lua me orava
Se viajei é bem provável
Nos seios das suas metáforas!



manuel feliciano

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