9.24.2010

A natureza é indomável

A natureza é indomável
Conhece bem o seu papel
Não age para roubar o acto
Aqui não é o fim da cena
Senão teria que nos matar a todos
Mas ela poupa só o que pode
Erguei bem alto o que vos habita
Sóis menos que uma gota de chuva.

E deixai que a misericórdia vos escorra
E obreiros humildes vos cavem
Há gritos sim e para sempre
Para que saibais que aqui
O mundo fica na trilha do sol e do sal
Da escuridão e do luar
Sem poupar o predador e a presa.

E quem disse que o sol se esconde
Dos gritos nos cemitérios?
O sol esconde-se é dos vivos
Para se enganarem a eles mesmos
Com riquezas e fortunas
Puxando carroças de burros.

Enquanto os espíritos vagueiam.
Sem laivos que ainda pairam
Da semente da escravatura
Mas que o sol põe a nu.

O sol cumpre o seu papel
Agora o homem não
Nem com aviões de azul
Nos deixa comer as estrelas
Há estrelas que cheguem para todos?
Mas o homem é a carne do vento
E é feito da poeira dos astros.

O homem é metalinguagem
Cadáver metafísico
Abstracção em si mesmo
Melodia de Beethoven
Corpo para se aquecer?
Eu nunca vi sequer o meu.

Se um dia os sonhos
Forem partos ensanguentados
Nas pálpebras dos vossos olhos
O sol nem por isso é covarde
Levará a farinha aos vivos
Iluminará as sendas aos mortos.

O sol só não é sol, para homens feitos de cal
E as leis do destino só visam a eternidade
Quantos andam pelas ruas
Que na verdade nunca nasceram
E sendo assim nunca morrem.

E há gente morta tão viva
Caminhando ao meu lado
Porém, não comais é tudo
Porque nada disto vos pertence
A não ser a finitude no jardim das ilusões
Porque um dia haveis de saciar mesmo sem boca
E a pobreza devolverá-vos o lugar.


Manuel Feliciano

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