9.02.2010

O Império do Sol

Foi no dorso dos Andes em Macchu-Picchu que nasci
Lavo-me no nascer do Sol e oro-lhe como um Deus
Eu estou ainda tão nú como no primeiro instante
Em que o ventre da Luz se sangrou pelo meu corpo
Cheira à frescura de uma virgem esculpida no Perú
As montanhas e as raízes são-me a carne arrancada
Como é belo o doce cantar dos pássaros de chuva
E as sementes parindo-me sem medo nos lábios filhos
Do sangue que me chuparam nasceram-me novas aves
Que fizeram os Colonos com os meus ossos no chão?
Ainda brotam sorrisos de alegria sem as mãos sujas
As que preferiram o ouro do que um coração sem mácula
A cada lágrima sou farol e a cada grito uma espiga
Hei-de ser moinho e dar-me todo em farinha à fome
De crianças inocentes que apanham frutos no vento
Nutrir a terra queimada e florir em caras brancas de gelo!
Que fizestes aos olhos e à boca que agora não os sinto?



manuel feliciano

Sem comentários:

Enviar um comentário