10.18.2010

A bomba

A bomba não se auto-faz
É castrada e marioneta
De farrapos
É escrava
E não dona
Não tem bunda
Nem desbunda
Só rebenta
Nem sentimentos tem
Nem consciência
Não ri da pobreza alheia
Nem chora da desgraça
Não mama
Não toma café
É vagabunda
Não trabalha
Não tem sexo
Não ama
Nem desama
Não idealiza
Nem sonha
Nem pensa
Nem se interessa por ninguém
Só rebenta (PUMmmmmmmmmm)
Como não pensa
A bomba não existe
Não tem lábios de Vênus
Nem suco gástrico
Não se penteia
Nem faz manicure
Não ingere nem digere
É cadáver como tantos outros
Lambendo o pó imundo
Dos desafectos
Das árvores sem folhas
Com ramos eléctricos
Que não abraçam
Nem deslaçam
É túmulo caíado
Flores murchas sem paixão
Num mar sem ondas
Que bate nas rochas das bocas
Marulham na garganta
E Rebenta no coração (PUMmmmmmmmmm)
A bomba tão amada
Que é pássaro de pedra
És tu e sou eu [...]


manuel feliciano

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