10.03.2010

Metamorfose

Escrevo-te palavras de amor nos olhos
Respiro-te em trémulas narinas
E deixo-me cair no dorso da tua terra macia
Sobre o sussurrar de folhagens
E fundo-me em magma e rio
Em pássaros labiais ardendo à chuva
Em auréolas estelares em rebento
Em torno de líquidos moinhos
No âmbar do colo até à foz
As mãos são carvão em fogo vivo
Buscando-te uma fenda no escuro
Luminoso e quente
E nos músculos das cordas da lira
Com sons desconexos nas virilhas
Que escorrem nos troncos das coxas
As almas e evolam-se em névoas
O coração ferve e descarrila
Num comboio gemendo em túneis
Com combustível de romãs
Que abre e rasga
Que morde e abocanha
Que come e não magoa
Que mata e ressuscita
Em plena metamorfose vou
Na popa do pénis pela desembocadura
Velas içadas de desejos
De dois marinheiros por trovoadas
Com faíscas de mel e sal
Eu quero-te árvore a florescer de Inverno
Abelha de saliva Polinizando-me mar adentro.



manuel feliciano

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