10.20.2010

Quando eu te tenho

Quando eu te tenho
O mundo está à distância dos teus olhos
O mar que é grande cabe-nos nas mãos
Há glaciares que nos derretem nos beijos
As laranjeiras secas dão laranjas cheias de sumo
Tu és o Ouro e a prata que eu não tenho
O Inverno é frio mas amadurece
Os frutos alvos do teu rosto
O escuro é uma manhã tal como um rio desamarrado
Que quebra o som dos tijolos e dos escravos
E os deuses moram-nos tranquilamente sem cortinas
Os nossos cabelos são árvores no deserto
Nós apanhamos mesmo pêssegos nas nuvens
Sem necessidade alguma de os comermos
Quando eu te tenho
Basta-me a luz dos meus olhos na tua voz
O crepúsculo do teus pés na minha sombra
Somos ponte de saliva que não se desmancha
O universo é-nos só um pequeno ponto
Que nos teus dedos germina multidões
De grãos afectuosos na minha alma
A tua ausência é o reflexo de que me habitas.



manuel feliciano

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