10.17.2010

Sabem o que eu valho?

Sabem o que eu valho?
Uma moeda de 20 escudos
Que perdi num bolso
Uma gravata atada ao pescoço
[Esgana-me]
Mãos de sereias e coxas lívidas
[Torturam-me]
A impressão que aquela loira
Sentada a ler um livro no jardim
Poderia ser minha
[Eleva-me]
É o que eu valho
Um ser demodé
[Pouco me importa]
Ou um very important people
[Deixo para a natureza]
Aos olhos de outro
E eu e a consciência das coisas
E as coisas para mim
E eu para as coisas?
Uma árvore plantada no jardim por engano
O alcatrão passou a ser mais belo
Que uma mulher
A erguer-se no orvalho de uma flor
[Enlouquece-me]
Óhhhh, eu que pensava que só
As mulheres gordas sofriam de desamores
As loiras esguias também as vejo
A chorar à varanda
E as minhas pernas desgraçadas?
Deixo-as no Cais do Sodré
Para aqueles que as têm e não as usam
E afinal o que são os olhos meu amor?
- Duas moedas oxidadas
Vêem o que existe
E vêem o que não existe
Ou melhor não vêem nada!
Por que não é com os olhos que se vê meu amor!
Eu que vi agora duas putas tão bonitas na travessa
Com o coração afogado no Tejo
[Dói-me]
Quem lhes envenenou o amor?
Quem lhes desmereceu o beijo?
Ao tic-tac de um relógio
Sobra-me este dia a dia cheio de mim
Acham pouco?
Num vai e vem de comboios e gente a correr-me!


Poeta manuel feliciano

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