11.22.2010

Neurose

E tu que dizes que a realidade é o que tocas
A lenha que arde e se consome
E os navios dentro dos vaga-lumes
O copo que se bebe e nunca esteve cheio
A mulher de carne como tivesse carne
A árvore abrindo a boca já de velha
Ainda a nascer dentro de mim
E a bala do amor desferida pelos olhos
E o sangue a escorrer invisivel
E os que nos sorriem por dentro da Primavera?
E a mulher transparente que respiro pelas narinas
E eu nos lençóis em veleiros de abraços
E fogueira que me aconchega de ausências
E eu a caminhar pelas ruas sem corpo?
E a minha alma feto dentro do teu ventre
E as pernas presas e eu no colo das coisas
Ah que doces neuroses verossímeis
As que efectivamente me embebedam
E sem as quais eu não chegaria a ser homem.


manuel feliciano

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