12.21.2010

Os deuses que me amam

Os deuses que me amam
São de pedra e sal
Bichos dóceis nas entranhas
De uma flor
Folhas secas ainda verdes
Em menopausa
Olhos alegres em pauís da cor do céu
Têm braços que não apertam
Húmidos de sede
São partos na carne que me acendem velas
E espinhos com sangue
Que me sabem a mistérios
São a neve branca e adorável
Onde me aqueço
E a casa de chuva onde me enleio
Sem unhas
E o grito mudo das palavras
Que me levam ao colo
Ah os deuses que me amam e confortam
Serão sempre deuses
Na loucura dos cadáveres ambulantes
Enquanto um cão me lambe
E a minha alma desventurada se procura
Mais que as estrelas
Que me morrem na boca frio de gelo
E o cheiro a trigo em luares de ferro
Que os meus olhos cegos imaginam ser vozes
E a degradação de tudo a tornar-me fluido
Capaz de ser homem sonhador
Suspenso em árvores de mel no pôr-do-sol
Onde só o calor de umas asas me sustenta
Como se tudo nasça para um vazio quente
De horas vazias e falsamente oportunas
Agarrado a valsas de nuvens sem mim
Das eras que se erguem como igrejas
Enquanto procuro o que nunca fui
Para chegar a ser mais que uma viagem
No desabrochar de loucas primaveras
Serão sempre deuses na imperfeição dos dias!



manuel feliciano

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