1.18.2011

África Mulher

E as crianças de África desnudadas
Em aldeias pintadas no barro da minha boca
Com os sonhos nas estrelas e as mãos no mar
Lavam-me os olhos com mel de sereias
E cheias de fome plantam-me sorrisos
E correm na savana dos meus cabelos
E há dias ressequidos em folhas de embondeiros.

O médico não chegou à pele das flores tão brancas
Da barriga da mulher na minha consciência
Parindo-me uma paz fraterna de espigas douradas
Num corpo húmido sangrando-me na garganta
Vem-me uma dança de água do silêncio da carne
E cardumes de peixes por entre barrigas tão magras
Mais que a luz num porto desta velha Europa!

E há canoas nas mãos e cidades nos olhos
E gargalhadas de lenha ardendo em fogueiras
E homens bebendo a claridade dos astros
O azeite verde a escorrer das palmeiras
E um resto de pão cozido em asas de aves
A chuva desenhando faunas em faces sem folhas
E as rugas-canais que levam o amor ao mundo!


manuel feliciano

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