5.14.2011

Cântico Comum

A terra nem me causa amor

Nem desconforto

Só espanto



Nem a memória

Humana

Presa

Temerosa

Feita de sol e barro

A idolatro



Porque a memória é uma gaveta

Que não conhece a altura dos Deuses

Escondidos no abismo



O meu coração é pobre

E não corre atrás de nada

Porque o rio não corre atrás do mar

Deixa-se ir pela encosta

E não pugna pelas flores

Que latejam em jardins

Apanhadas há tanto tempo



Nem por sorrisos

Que se passeiam nas ruas

Mas que dormem

Sossegados na pele

Desde sempre cheios de vida



Não digo à torre alta:



- És a virilidade e a perfeição do tempo



E à torre baixa:



- És a margarida inacabada…



Não vivo como quem quer arrancar tudo

A nuvem que é nuvem também erra

E eu como ela caio

E eu como ela me evaporo

Em rotação constante



Sou um mero caminho acidentado

Não mais que um baldio de terra

Nas letras das ervas

Sem cicatrizes Embora doa

A urze e abelhas

Porque a vida e a chuva

Ardem mas não são lenha

E não nos deixam as cinzas

Senão a boca que transborda

O amor sublimado



Nas palmeiras do tempo

Entre bichos e coisas que são de um cântico comum!







manuel feliciano

1 comentário:

  1. Enquanto houver o espanto haverá a poesia. E o cântico será comum, mas mais belo.

    Abraço, poeta!

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