11.17.2012

Outono



Nasce-me neste Outono – amor
Deixei de acreditar na primavera
Tenho a boca cheia de febre
Na língua – sobrado do quarto cheio de uvas

Os teus queridos dedos lua morna
Na cabeleira do mar pelo colo
São pregos de carpinteiros entre os beijos
O sol na rima da saliva a naufragar
Eu bem te peço socorro
Mas tu não me ouves
O teu não ouvir é um monte claro

Onde sobejam giestas
E um ninho de palha
No pó da garganta
Um rio no umbigo
Do mar para a montanha

Colho-te maduras peras
Fecho os olhos e morro
Mergulho no precipício
Os teus braços são fundos
Contra as víboras das células – as tuas pernas

Ah as tuas pernas
Sacodem o pó
Desarrumam eixos e a direcção do lume
Porque não são pó
São os meus olhos
Brisa de âmbar sem ferrugem
Geografia inexistente
Na doçura dos dentes


As nuvens estão altas
O coração e a boca. E morrer é mais do que querer
Luz a transbordar o palato

Os dias não chegam. Os dias não bastam
E as flores eclodem para dentro do escuro
É Outono pleno de loucura
Nas minhas unhas reluzem as tuas coxas

E tu nasces-me, tu nasces-me
Tu não sabes morrer
É frio. As tuas mãos queimam-me
Na ininterrupta aurora
A folhagem dos seios remexida pelos melros
É o mar e as árvores que não se lêem

Depois do fim: Cheiro-te a pele- Estou vivo!

manuel Feliciano

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